Na cidade mourisca as ruas estreitas conduziam um rio de gente descontraída. Na praça, não muito longe do quarto onde me encontrava, havia uma estátua do Rei D. Sebastião com o elmo de guerra aos pés. Eu devia estar naquele primeiro andar percutindo as teclas da máquina de escrever. O texto ia saíndo nas horas mortas, quando o trabalho do restaurante o permitia.
O princípio, ou Genesis, como quiserem, estava ali à minha frente numa meia dúzia de folhas dactilografadas. O princípio do ofício da escrita, partiu de dentro de mim numa nau das descobertas na cidade de Lagos, ou Zawaia, como quiserem. Para mim será sempre a última hipótese, pois o meu sangue árabe foi sempre se revelando cada vez mais salgado e quente confirmando essa minha afinidade filial com o norte de África. A estória ou artigo jornalístico deveria ser entregue em prazo curto ao Portugal Hoje, e daria prémio e direito a assistir ao vivo no Dramático de Cascais ao concerto de Peter Gabriel, que nessa altura tinha definitivamente abandonado os Genesis para encetar um trabalho a solo. O texto ia-me saindo directamente da cabeça para as folhas brancas de um jacto, entrecortado somente pelas tarefas no restaurante de minha tia. Estávamos em 1980, deveria ter 17 anos e escrevia sobre a odisseia de Rael nos subterrâneos de N. Iorque, obra maior do universo onírico do cantor de voz rouca dos Genesis. Sem qualquer expectativa exagerada, cumpri o prazo e enviei a carta com o texto para o jornal. Qual não foi o meu espanto passados alguns dias, na edição do Portugal Hoje seguinte lá vinha o meu texto com mais dois, os seleccionados com direito a prémio: bilhete para assistir ao vivo em Cascais ao concerto de Peter Gabriel. Nesse dia na minha cabeça ouvia-se já Here comes the flood. Há músicas que nos marcam a vida.
O princípio, ou Genesis, como quiserem, estava ali à minha frente numa meia dúzia de folhas dactilografadas. O princípio do ofício da escrita, partiu de dentro de mim numa nau das descobertas na cidade de Lagos, ou Zawaia, como quiserem. Para mim será sempre a última hipótese, pois o meu sangue árabe foi sempre se revelando cada vez mais salgado e quente confirmando essa minha afinidade filial com o norte de África. A estória ou artigo jornalístico deveria ser entregue em prazo curto ao Portugal Hoje, e daria prémio e direito a assistir ao vivo no Dramático de Cascais ao concerto de Peter Gabriel, que nessa altura tinha definitivamente abandonado os Genesis para encetar um trabalho a solo. O texto ia-me saindo directamente da cabeça para as folhas brancas de um jacto, entrecortado somente pelas tarefas no restaurante de minha tia. Estávamos em 1980, deveria ter 17 anos e escrevia sobre a odisseia de Rael nos subterrâneos de N. Iorque, obra maior do universo onírico do cantor de voz rouca dos Genesis. Sem qualquer expectativa exagerada, cumpri o prazo e enviei a carta com o texto para o jornal. Qual não foi o meu espanto passados alguns dias, na edição do Portugal Hoje seguinte lá vinha o meu texto com mais dois, os seleccionados com direito a prémio: bilhete para assistir ao vivo em Cascais ao concerto de Peter Gabriel. Nesse dia na minha cabeça ouvia-se já Here comes the flood. Há músicas que nos marcam a vida.
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