domingo, 31 de janeiro de 2010

G. O artista

suas mãos tingidas, voláteis,
mascando a tarde
o corpo semi-nu, semi-deus,
fixando um ponto
no contaponto de Bach
viaja: viaja sempre
com o avião na garganta
em primeira
vendeu ontem um sistema mole,
um caracol atravessando a estrada:
o risco é a sua exposição
não bebe, asceta de pele alva
camisa em pano preto amarrotada,
botões soltos: como embarcações
à deriva no mar

O Artista fez um pedido ao ministério,
com ar sério: mistério.

3 comentários:

  1. Só os não artistas não compreendem que um artista não é para se compreender.
    Um artiste vive-se, admira-se, sente-se, adora-se, detesta-se.
    Nunca se deve tentar compreender um artista. Porque ao fazermos mataremos o artista, rasuramos a sua arte e deixamos de sentir.

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  2. Teresa, um artista é um homem como todos os outros, não isento de mácula, não melhor ou pior que os outros. Ao tentarmos compreendê-lo através dos seus sistemas indecifráveis, reforçamos a sua completa humanidade. A sua obra permanece intocada, luminosa.

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  3. No meu ser não há apanágio em se tentar compreender um artista.
    Um artista dá, cria, renasce e a dádiva, a criação e o renascimento valem por si só, sem serem passíveis dos meandros da compreensão.

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