domingo, 31 de janeiro de 2010

D. (sem título)

Eu fui um louco que viveu cem anos
Compondo um gigantesco manuscrito...
Madrugadas profundas de proscrito
Gastei sobre o papel dos meus enganos.

Memórias de delírios mais insanos,
Razões petrificadas de algum grito,
Anotei, registrei, pus por escrito
Na chama congelada dos meus planos.

Quando enfim fui chegando junto à morte
Vi que tudo escrevera, e ri da sorte,
Que as páginas tocavam já nas sancas.

Foi aí que enxerguei, oh! distinta!
Que nunca na caneta houvera tinta,
E a morte entre um milhão de folhas brancas.

Alexei Bueno

in Poesia Brasileira do Sec. XX; selecção, introdução e notas Jorge Henrique Bastos, Ed. Antígona, Fevereiro de 2002

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