Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
Fernando Pessoa
Estou aqui deitado
num lençol de areia,
quando de repente
alguém me beija:
é o sol que me beija
a face, por entre
os teus lábios de luz.
Consolação, Ago. 2010
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