"O rio alarga no seu estuário, recortado pelos arcos metálicos pujantes, da ponte ferroviária que o cruza de nascente para poente, ambiente esse traduzido pelas palavras dum poeta:
Hoje sentei-me na moldura do arade,
e vi a massa aquosa que deslizava
como um espelho ondulado
E é aqui, nesta geografia de águas largas que tudo se passa a partir de 1969
Voltando a Ferragudo, haveria de habitar com meus pais e irmãos uma casa à entrada do povoado piscatório, debruçada sobre um braço do Arade que me oferecia o cenário de Janela indiscreta sobre a povoação, assente na base do rio, com a ponte rude e rasteira de arcos quadrangulares como o largo que que se anuncia no fim da descida. O cais e a beira-rio com os barcos de pesca, montando a partir daí, uma profusão de escadarias, rampas e ruas íngremes que culminarão no topo do casario, na Igreja Matriz, debruçada sobre o estuário do Arade, observando a fortaleza de Santa Catarina, na margem oposta do rio.
Deste lugar dominante a vista inicia a sua navegação oceânica de largos horizontes.
É pois esta imagem nostálgica de uma povoação compacta, bem estruturada nas ruas e rampas, subindo sempre com paredes alvas, um casario cúbico como uma pintura de Maluda..."
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