quinta-feira, 4 de novembro de 2010

PAINKILLER

Encontraste a tua posição zen.
Como um prolongamento de ti que
Te esticava as pernas alvas e macias
Pregadas como um sacrilégio.

Encontraste a tua posição zen.
Como um prolongamento de ti,
Os metais disfarçados de macios lençóis
Alongavam-te as pernas alvas e picantes
Como um sacrilégio que imitava o
Sudário. Blasfemaram-te roubando-te a imagem.
Pernas juntas de sexo na minha cabeça afastadas.
Os joelhos perturbantes a adivinharem
Os teus ossos sensíveis de menino magoado.
Dores? O teu corpo e a tua face repousam num
Opaco grito de luxúria e divertimento.
O encarnado doloroso dança à tua frente enquanto
Eu te como os braços com beijos e com os olhos e
Te afago a cabeça e pouso o meu
Corpo nas tuas pernas no meu consciente
Ultrajante e sujo...
Dores? Sim, dores. Imortalizo-te.
Tu não mereces o que te faço.
O azul celeste da tua alma e a palidez
Da tua pele imaculada de mártir
Consomem-se em comprimidos.
Eu queria dar-tos todos, sim todos.
A senhora da farmácia não deixou e chamou-me
Louca viciada. Quis pregar-me ao laboratório.
Apertei-lhe o pescoço. Quis que
Ela me suplicasse para parar.
Que maravilhoso meu anjo, muitos eu trouxe...
Todos para ti, para se
Dissolverem e evaporarem nos teus
Poros puros, penetrantes e
Pacíficos, posicionados para eu te ver melhor
Para ti, para ti...
Põe, põe, põe. Isso...assim,
Mais fundo, até as cores
Se misturarem. Estados Unidos?
Esquece Nova Iorque e a pobre da rua.
Eu queria ter levado tudo até
Ao fim
E ter feito tudo o que tu quisesses,
Para não teres de escrever as agulhas.
Lindo, que magnífico...eu mereço chicotes
E grilhões por me observares suja e
Empalada castrando-te os
Sonhos e não te matando a dor
Raios vermelhos em pentagonal sina
Me furem as fontes com a sabedoria
Ancestral para eu morrer e
Vitalizar-te.
Eu quero tudo de novo para voltar atrás
E teres o que queres e merecias porque
Eu fui feita, criada e concebida
Para ti, por ti. Finalizarei a minha tarefa
Quando te me e me te der.
Dores? Enterrra-me mais e mais
Fundo, mais celestial, mais infernal,
Mais divinal.
São muitos, toma-os e passa-me
A máquina alongadora de infinito. Vou deitar-me
A teu lado, amor. Levanta-te que as
Minhas pernas ficaram presas aqui.

Sofia Santos

in "Actéon nº 1" - Revista de Expressão pessoal e artística - Jan/Fev 2008, vários autores.

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