Todos querem uma casa,
um abrigo onde aquecer
os ossos, alguns compartimentos,
água corrente e um computador
que nos prenda ao resto do mundo,
em noites frias.
E eu, que ao entrar em casa,
é como regressar ao cárcere,
entro ordeiramente como
um condenado.
A minha casa é um livro de capa dura,
que me acompanha nos dias
mais chuvosos, com janelas macias,
de palavras macias,
cobertas de lágrimas de uma chuva
copiosa e persistente.
Nesta casa serei feliz.
Mas afinal estou aqui, só,
o livro entreaberto, de janelas batendo
na madeira do tempo,
e eu chuvoso e frio, como um qualquer
inverno, puxo o sobretudo sobre
as orelhas e vagueio, como sempre
tenho feito, à procura de abrigo.
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