quarta-feira, 1 de setembro de 2010

POESIA A SUL

choro
porque te queria
aportada mais cedo
nos meus braços

choro
porque quero
que nunca me partas
assim o crepúsculo chegue

choro
porque um cheiro
silvestre de flores
nunca me parou assim

choro
porque ainda encontro
o macio das tuas mãos algodão
amimadas no meu peito

choro
e as lágrimas escarpadas
não são mais que espelho e oxigénio
tudo ainda mais vivo e a pele aquecida

afinal choro
nunca foi nada assim


in “Mar de Fora” - Henrique Graça – Lagos, 2010

Em edição de autor, intitulada "Mar de Fora", de imagem gráfica invulgarmente cuidada, a poesia de Henrique Graça (n.1966, Lagos), revela-nos um discurso do primado da palavra, transportando o leitor à inexorável energia dos elementos, onde o mar, desempenha um papel central, como o próprio título faz prenunciar e onde a nostalgia do mareante transpõe a visão dos recortes dessa costa do sul de Portugal, cuja beleza tem vindo a ser progressivamente erodida, com tudo aquilo que a metáfora encerra. Não faltam na estrutura da obra, referências ao funcionamento cíclico das ondas "Três sets...", complementadas por ilustrações de elementos marinhos. É sobretudo um discurso poético à beira do abismo azul, da vertigem dos grandes espaços, aquele que nos é dado pelo poeta lacobrigense.

P Ponte (Caldas da Rainha, 1 de Setembro 2010)

Também no blog poemas em azeite: Aqui

2 comentários:

  1. Muito bem, palavras justas e merecidas pelo autor do "Mar de Fora".

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  2. E esperamos brevemente ter outras palavras em livro, para ampliar a palavra.
    Um abraço e bons azeites.

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